A meritocracia e a diferença de oportunidades para as mulheres negras nas empresas foram debatidas durante a Conferência Ethos 360º.

Como contrapor mérito e desigualdade? Como fazer a reparação histórica dos anos de escravidão negra no Brasil? Essas foram algumas das questões discutidas durante o painel “Empoderamento profissional de mulheres negras” durante a Conferência Ethos 360º.
Um exemplo de mulher negra que conquistou seu espaço no mercado de trabalho é Rachel Maia, CEO da joalheria Pandora, que conta com mais de 10 mil pontos de venda em todo o mundo e está presente no Brasil desde 2009, com 79 lojas. “A cara do luxo no Brasil é a das mulheres magras, loiras, de olhos verdes. Eu não tenho essas características mas cheguei a esse cargo de presidência. Sou uma das faces da diversidade e mesmo assim o luxo me acolheu”, diz Rachel, acrescentando que se autoempoderou nesse processo. “Já recebi muitos olhares preconceituosos. Nos encontros de presidentes de empresas, as mesas são quase todas de homens, mas não me inibo”, conta ela, ressaltando que nos momentos em que o olhar da sociedade a magoa, ela busca forças em sua família.
Secretária executiva da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras e coordenadora do Instituto Odara, Valdecir Nascimento pontuou que a forma como o racismo opera no Brasil é desumana. “O contraponto da ação de exclusão é o mérito. Mas não se pode falar em, mérito quando não há oportunidade”, afirma ela. Para Valdecir um dado inquietante é aquele que mostra que apesar de ter ocorrido um incremento na porcentagem da população negra que frequenta as universidades, esse aumento não foi acompanhado de inserção equivalente nos postos de trabalho. “Quando não conseguimos trabalho somos convencidos que precisamos estudar mais, fazer mestrado, doutorado. Mas então descobrimos que ainda não é suficiente porque brancos não ficaremos”, diz ela. Valdecir considera que existe uma ignorância da sociedade de não perceber a capacidade que a população negra tem de gerar renda e conhecimento. “Precisamos refazer o pacto civilizatório no Brasil”, destaca ela.
Segundo Cida Bento, diretora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), é muito equivocado o discurso de que é o mérito o fator determinante para que os negros ocupem mais espaços no mercado de trabalho e na sociedade em geral.  “Empoderamento é se reconhecer como parte da sociedade. O racismo e o sexismo encolhem a gente. Se a maioria dos reitores de universidades é de homens brancos isso não se dá pela falta de mérito de mulheres ou negros”, afirma ela. Cida diz que há vários caminhos propositivos para as empresas no combate à desigualdade e à exclusão.

 

Por Adriana Carvalho, para o Instituto Ethos.

 

Foto: Clovis Fabiano/Fernando Manuel/Adilson Lopes