Dilemas da inclusão de LGBTQIA são debatidos na Conferência Ethos
O Ethos vem investindo fortemente em direitos humanos e na promoção das demandas do público LGBTQIA. Em 2013 o Ethos lançou o manual O Compromisso das Empresas com os Direitos Humanos LGBT e nas Conferências Ethos este tem sido um tema recorrente. Na edição 2017, da Conferência Ethos 360º no Rio de Janeiro o painel LGBTQIA uma causa para as cidades e para as empresas trouxe à tona questões que devem ser refletidas para que de fato o ambiente corporativo seja inclusivo e para todxs.
“Incluímos no tema desta mesa a questão das ‘cidades’ porque os dados apontam que ainda há um grande número desta população sendo afetada pela violência. Portanto é um momento importante para repensarmos as cidades e as situações de violência”, destacou Edson Lopes, mediador da discussão.
Participaram ainda deste diálogo: Indianara Siqueira, putatransativista, presidente do Grupo TransRevolução e secretária da ONG DA VIDA; Heloísa Melino, advogada e ativista feminista e Luiz Henrique Oliveira, analista regulatório na Shell Brasil.
Heloísa abordou o viés legal que por vezes não atende a contento às demandas desta população. “O judiciário é muito conservador e tende a reproduzir as forças hegemônicas. O Estado diz que todos somos iguais, mas sabemos que é algo apenas teórico, pois uma mulher negra e lésbica não tem o mesmo tratamento que um executivo branco. Quando falamos do mercado de trabalho, não há leis que proíbam a contratação. Mas também, nem todas priorizam esta questão na hora de contratar. Além disso, pessoas LGBT não conseguem ascender a uma vaga ou promoção”, observou a advogada que atualmente atende apenas a este público.
Como prova de que este cenário pode ser diferente, Luiz Henrique, um dos fundadores da Rede LGBT da Shell Brasil relatou a própria história. “As empresas têm o poder de construir caminhos para incluir pessoas. Precisam então estar cientes que a diversidade é importante para o negócio. Dados de uma pesquisa apontam que funcionários que assumem a homossexualidade podem render 29% a mais. Outro dado impactante é que por causa da homofobia deixamos de lucrar 32 bilhões de dólares do ano, o que equivale ao PIB da Índia”, destacou.
“Nós temos um mundo que não é preparado para determinados corpos”. Com esta frase que muito reflete as lutas de mulheres e do público LGBTQIA, Indianara Siqueira, iniciou sua fala que apontou diversos dilemas enfrentados no mercado de trabalho. “Criamos a Prepara Nem, mas sabemos que o mercado não está preparado para estas pessoas. Desde o banheiro, às piadas transfóbicas. Vão encontrar no mercado formal de trabalho todas as opressões que já encontram na sociedade”, refletiu. Uma questão que Luiz não só concorda, como complementou: “não é o LGBT que tem um problema, mas sim o ambiente que não está preparado para ele”.
Um ambiente que até então empurra literalmente o travesti para a prostituição. “A Associação de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro (ASTRA-RIO), estima que 90% das travestis vivam da prostituição. O problema não é a prostituição, mas sim ela ser a única opção”, aponta Heloísa.
Como mudar este cenário? Heloísa acredita que é preciso que “as empresas estejam dispostas a ter equipes para acompanhar de perto a questão. Não basta ter um código de conduta, se faz necessário a capacitação inclusive dos gestores”, acredita.
Por Rejane Romano, do Instituto Ethos
Foto: Thaís Berlinsky