Por:
Carlos Gomez – Instituto Ethos
Christianne Barbosa
Erik de Oliveira Jose – Intex Bank Banco de Câmbio
Marcela Greggo – Instituto Ethos
O lançamento da nova edição do Programa Empresa Pró-Ética (2025-2026) marca um momento de evolução significativa para a agenda de O lançamento da nova edição do Programa Empresa Pró-Ética (2025-2026) marca um momento de evolução significativa para a agenda de integridade no Brasil, reafirmando seu propósito de fomentar um ambiente corporativo mais íntegro, ético e transparente, agora ampliando seu alcance para incorporar os urgentes desafios socioambientais e de direitos humanos.
A trajetória do Pró-Ética começou antes mesmo da Lei Anticorrupção brasileira, com a criação do Cadastro Empresa Pró-Ética em 9 de dezembro de 2010. Esta iniciativa pioneira na América Latina, fruto de uma parceria entre a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Instituto Ethos, tem como objetivo promover a adoção voluntária de medidas de integridade e reconhecer publicamente empresas comprometidas em prevenir, detectar e remediar a corrupção.
O Programa conquistou reconhecimento internacional, sendo classificado como uma “Boa Prática” pela OEA[1], um “esforço positivo” pela OCDE[2] e “um dos melhores exemplos” pela UNODC[3]. Esse prestígio solidificou o Brasil como referência global no tema, a ponto de a iniciativa ter inspirado a criação de programas semelhantes em países como Colômbia e Paraguai[4].
Ao longo dos anos, o Pró-Ética passou por aprimoramentos contínuos:
- 2014-2015: Reestruturação para se adequar à Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/2013), com uma nova metodologia de avaliação.
- 2022: Introdução de novos requisitos, ampliação das áreas de avaliação e implementação do Sistema de Avaliação e Monitoramento de Programas de Integridade (SAMPI), agilizando e tornando o processo mais transparente.
A nova edição do Pró-Ética (2025-2026) não apenas aprofunda as bases construídas nas edições anteriores, mas também amplia significativamente seu escopo, reafirmando seu papel estratégico na promoção de uma cultura empresarial ética, responsável e sustentável.
Entre os avanços mais relevantes, destacam-se:
- Ampliação do Conceito de Integridade: A integridade corporativa passa a incluir de forma explícita temas como direitos humanos, meio ambiente e mudanças climáticas, alinhando-se às melhores práticas internacionais de ESG (Environmental, Social and Governance). Essa ampliação reconhece que a integridade empresarial vai além do combate à corrupção, abrangendo a prevenção de riscos socioambientais e a promoção de condutas responsáveis nas cadeias produtivas.
- Expansão do Público-Alvo: Empresas estatais federais dos setores financeiro, de petróleo, gás e energia (desde que sob controle direto da União e sem dependência orçamentária) agora estão aptas a participar do programa, ampliando o universo de empresas que podem se comprometer com os padrões estabelecidos pelo Pró-Ética.
A participação mantém como requisito a adesão ao Pacto Empresarial pela Integridade e Contra a Corrupção, promovido pelo Instituto Ethos, já previsto como critério em edições anteriores, e passa a exigir, adicionalmente, a adesão ao Pacto Brasil pela Integridade Empresarial, promovido pela Controladoria-Geral da União (CGU). Essa medida visa reforçar o alinhamento entre os compromissos públicos assumidos pelas empresas e a estrutura de seus programas de integridade.
Os Novos Desafios Práticos para as Empresas com a Nova Edição
A evolução do Pró-Ética impõe uma nova realidade para o setor empresarial brasileiro, trazendo à tona desafios práticos significativos, especialmente no que tange à operacionalização dos requisitos estabelecidos.
O principal desafio é a integração efetiva entre os programas de integridade e as agendas ASG, o que requer uma mudança de paradigma na forma como as empresas gerenciam riscos e oportunidades. A partir de agora, não basta apenas prevenir atos de corrupção: é necessário desenvolver mecanismos robustos para lidar com riscos socioambientais e de direitos humanos, considerando toda a cadeia de valor.
Entre os principais desafios, destacam-se:
- Sistemas de Due Diligence Socioambiental e em Direitos Humanos: Empresas precisarão estruturar processos de due diligence capazes de identificar, prevenir e mitigar riscos associados a violações de direitos humanos e impactos ambientais negativos em suas operações e nas de seus fornecedores e parceiros comerciais.
- Capacitação e Engajamento Interno: A nova abordagem exige que áreas tradicionais de compliance colaborem de forma integrada com setores de sustentabilidade, jurídico, recursos humanos e compras, promovendo uma governança transversal.
A nova edição do Pró-Ética inaugura uma fase em que o novo entendimento sobre integridade corporativa se consolida como um diferencial competitivo e estratégico no ambiente de negócios brasileiro. Mais do que um reconhecimento, o programa representa uma oportunidade para as empresas fortalecerem seus sistemas de governança, ampliarem a confiança junto a stakeholders e se posicionarem como protagonistas na agenda de sustentabilidade e direitos humanos.
Ao integrar aspectos de compliance, ASG e direitos humanos – “Integridade Socioambiental” -, o Pró-Ética oferece um roteiro claro para empresas que desejam alinhar-se às expectativas globais de mercado, investidores e sociedade civil. Dessa forma, a adoção de práticas de Integridade deixa de ser apenas um requisito regulatório para se tornar uma vantagem estratégica, capaz de atrair investimentos responsáveis, melhorar o acesso a financiamentos e abrir portas para parcerias internacionais.
Além disso, o fortalecimento de mecanismos internos de transparência, accountability e governança cria ambientes corporativos mais resilientes e preparados para enfrentar crises reputacionais e riscos socioambientais. As organizações que enxergarem o Pró-Ética como uma ferramenta de aprendizado contínuo, e não apenas como um processo avaliativo, poderão aprimorar seus indicadores e gerar valor sustentável de longo prazo.
A convergência entre o Pró-Ética, os princípios ASG e Integridade Socioambiental também cria um espaço fértil para inovação e colaboração intersetorial. Projetos de economia circular, diversidade e inclusão, ou descarbonização podem ser impulsionados dentro da lógica de integridade ampliada — conectando a ética à estratégia de negócio.
Por fim, o novo Pró-Ética convida as empresas a assumirem uma postura mais proativa e engajada na construção de um ecossistema empresarial ético e sustentável, no qual o compromisso com a integridade se traduz em impacto positivo para a sociedade e para o próprio mercado. Trata-se de um chamado para que o setor privado seja não apenas cumpridor de regras, mas agente transformador de uma cultura de ética pública e privada no Brasil.
[1] OEA – ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Mecanismo de Acompanhamento da Implementação da Convenção Interamericana contra a Corrupção. República Federativa do Brasil: Relatório Final (Aprovado na Sessão Plenária de 14 de Setembro de 2012). SG/MESICIC/doc.330/12 rev. 4. Washington, 14 set. 2012. Disponível em: <http://www.oas.org/juridico/pdfs/mesicic4_bra_por.pdf>.
[2] https://www.gov.br/cgu/pt-br/assuntos/integridade-privada/avaliacao-e-promocao-da-integridade-privada/empresa-pro-etica/o-pro-etica
[3] https://www.gov.br/cgu/pt-br/assuntos/integridade-privada/avaliacao-e-promocao-da-integridade-privada/empresa-pro-etica/o-pro-etica
[4] https://www.gov.br/abc/pt-br/assuntos/noticias/nova-edicao-do-selo-de-integridade-e-lancada-no-paraguai









