Os veículos de comunicação são um dos maiores formadores de opinião da população brasileira. Por isso, têm um desafio triplo a ser cumprido: informar, denunciar e engajar.
Felipe Saboya, assessor executivo da presidência do Instituto Ethos, mediou a mesa que debateu sobre “O papel da mídia no combate à corrupção”, durante o segundo dia da Conferência Ethos 360º. Entre os palestrantes estavam Angela Pimenta, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, Luciano Martins Costa, jornalista e escritor, e Guilherme Alpendre, secretário executivo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.
“Neste ano nós lançamos um estudo que analisa o sistema de integridade nacional, ou seja, o aparato institucional regulatório brasileiro para prevenir e combater a corrupção, uma metodologia da Transparência Internacional que aplicamos aqui no Brasil. E um dos pilares fundamentais da prevenção e do combate à corrupção, segundo essa metodologia, é exatamente o papel da mídia. Nossa análise foi de 2000 a 2015 e o saldo geral é positivo, porém ainda existem alguns desafios para o exercício apropriado do jornalismo no que se refere à investigação de corrupção”, afirmou Saboya. Segundo ele, “o Brasil é um dos países considerados mais violentos no exercício do jornalismo. Então, a garantia do exercício da profissão, por exemplo, é um desafio a ser seguido”.
Angela Pimenta abordou sobre a regulamentação da profissão do jornalismo, a questão de monopólios e oligopólios, e o impacto da revolução digital no jornalismo. “O celular hoje é uma produtora multimídia. Ele desafia aquele conceito de propriedade cruzada que foi escrito e aprovado na nossa constituição de 1988”. Para ela, “considerando uma janela que vem desde 2000, o jornalismo brasileiro tem se fortalecido. A imprensa tem tido um papel decisivo, cobrindo, descobrindo ou reportando sobre temas de interesse público, notadamente ligados à corrupção”.
Já Luciano Martins propôs uma reflexão ao público presente: “O combate que a mídia brasileira faz à corrupção é um combate minimamente isento? Ele respeita o pressuposto da objetividade? Ou a imprensa brasileira está engajada em um projeto político específico?” Em sua palestra, Guilherme Alpendre falou sobre o papel da justiça. “Há dois anos, a gente desenhou um projeto em parceria com o Google chamada Ctrl X. A ideia é mapear as ações judiciais que pedem remoção de conteúdo da internet. Curiosamente, mais de 70% são pedidos de remoção de conteúdo do Facebook e, se você for olhar, são páginas de jornalistas, de jornais, de pessoas, mas são contra o Facebook. É muito interessante como essa nova configuração aparece. É um risco dessa legislação eleitoral e é uma das preocupações da Abraji”, finalizou.
Por Júlia Ramos, para o Instituto Ethos.
Foto: Clovis Fabiano/Fernando Manuel/Adilson Lopes