Consequências das investigações, o combate à corrupção e a relação entre o público e o privado fizeram parte dos debates da Conferência Ethos 360°.

“A questão da corrupção no Brasil é sistêmica e não há uma solução única que resolva todos os problemas de uma só vez. Ainda que essencial, a punição, sozinha, não é suficiente para coibir práticas ilícitas. É preciso também aprimorar mecanismos de identificação e prevenção”. As palavras que constam do posicionamento público divulgado em agosto pelo Instituto Ethos denotam a complexidade do desafio de combater as práticas ilícitas no país e foram lembradas pelo assessor executivo da presidência do Instituto, Felipe Saboya, na abertura do painel “Operação Lava-Jato: como equacionar a relação entre desenvolvimento econômico e combate à corrupção”.

Os debatedores falaram sobre os desdobramentos e as consequências da operação que domina o noticiário no país.  “O problema que vemos hoje é que estamos lidando não com o combate à corrupção em si, mas com seu uso político”, afirmou o advogado Ricardo Gebrim, sócio da Gebrim Advogados. Na opinião do especialista, operações como a Lava Jato deveriam mostrar caráter imparcial. “Mas vemos que os representantes de setores empresariais que estão sendo presos são apenas os aliados de um governo que a meu ver foi vítima de um golpe”, frisou ele, lembrando as semelhanças entre os fatos ocorridos recentemente no Brasil e a queda de presidentes no Paraguai e em Honduras. Gebrim ainda analisou que o Brasil historicamente sempre participou de articulações regionais, mas que sua atuação junto ao bloco dos Brics pode representar uma ameaça aos interesses de organismos como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

Diretor-superintendente da Agência Dinheiro Vivo, Luís Nassif, fez uma comparação com o programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio de Janeiro. “Quando foram lançadas, as UPPs eram consideradas a salvação da lavoura. Mas o que aconteceu de fato foi uma ocupação territorial que criou um poder paralelo e inibiu a liberdade de ir e vir”, afirmou. Para ele, operações como a Lava Jato deveriam conciliar a punição e o combate à corrupção com a preservação de empregos. “Por causa de uma gana de conquistar poder e de uma apatia indesculpável do governo, setores inteiros quebraram”, disse. Ele ainda criticou o papel que o judiciário vem tendo hoje no Brasil. Para Nassif, foi dado ao Judiciário um poder letal de fazer condenações com base em um conjunto de indícios, estabelecendo relações de causa e efeito que muitas vezes não existem. “Recentemente o ministro Ricardo Lewandowski fez uma afirmação que me estremeceu. Ele disse que o século XXI é o século do Poder Judiciário. Saímos de um excesso de poder dado ao réu para um excesso de poder para o julgador. Temos todos os indícios para ‘pegar’ Serra e Aécio (se referindo ao ministro das Relações Exteriores e ao Senador respectivamente), mas não pegamos. Não estamos em um estado de direito, estamos em um estado de exceção”, declarou ele.

 

Por Adriana Carvalho, para o Instituto Ethos.

 

Foto: Clovis Fabiano/Fernando Manuel/Adilson Lopes