Encontro discutiu os riscos e oportunidades dos impactos climáticos no setor produtivo e os avanços e desafios no combate ao desmatamento.

As mudanças climáticas não são mais questionáveis e, portanto, é prudente que o setor agrícola brasileiro esteja ciente dos impactos das mudanças climáticas em seus negócios, da resiliência das populações e da vulnerabilidade do país diante desses impactos.

Esta foi uma das considerações feitas por Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa e professor do Mestrado em Agronegócio da FGV-GVagro, e Hilton Silveira Pinto, professor de meteorologia agrícola do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade de Campinas (Unicamp), durante sua apresentação no seminário “Impactos das Mudanças Climáticas no Agronegócio Brasileiro” que o jornal Valor Econômico realizou nesta quinta-feira (8/5), no Hotel Renaissance, em São Paulo, evento em que o Instituto Ethos foi representado por Flávia Resende, coordenadora de Políticas Públicas e secretária executiva do Fórum Clima – Ação Empresarial sobre Mudanças Climáticas.

Alguns dos impactos já visíveis no clima são secas extremas. “Existe uma tendência geral de queda de precipitação e, portanto, uma piora nas secas”, enfatizou Pinto. Ele confirmou também o aumento das temperaturas mínimas em Campinas (SP), fenômeno que representa estatisticamente o que acontece no Estado de São Paulo.

A situação da Amazônia foi trazida pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e pela ONG The Nature Conservancy (TNC), que apresentaram os trabalhos que vêm realizando sobre os temas de água, florestas e agricultura na região.

Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon, mostrou os avanços e desafios no combate ao desmatamento na Amazônia. De acordo com ele, ocorreu uma queda de 48% das emissões brasileiras entre 2004 e 2012, o que foi possível principalmente por conta de redução no desmatamento no país. “Embora tenha havido esse significativo avanço na redução das emissões, ainda desmatamos 500 mil hectares por ano por motivos diversos, mas principalmente por questões de sobrevivência, lucratividade e especulação”, afirmou o pesquisador. “Os controles governamentais têm conseguido manter a taxa de desmatamento relativamente baixa, mas é necessário seguir com esse esforço, senão o desmatamento volta a crescer”, acrescentou.

Em seguida, Rodrigo Freire, coordenador de Floresta e Clima do Programa Amazônia da TNC, apresentou alguns gráficos e dados demonstrando que 18% do território amazônico foi desmatado ao longo dos anos e que 80% desse desmatamento se originaram de atividades ligadas à pecuária. “No entanto, existem iniciativas que têm focado na redução desses impactos na região, buscando diminuir o desmatamento, como a que ocorreu no município de São Félix do Xingu, no sul do Pará, que passou por uma ‘virada verde’ nos últimos anos”, informou Freire.

A segunda parte do evento contou com a participação da academia, representada por Alexandre Gross, gestor de projetos no Programa de Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes) da FGV-Eaesp, e a pesquisadora Susian Martins, também do GVCes. Ambos os pesquisadores enfatizaram a importância de se considerarem os custos da inação em contraponto com os custos de ações para mitigação e adaptação. O debate nessa mesa abordou a necessidade de o setor produtivo em ser proativo na questão de adaptação às mudanças climáticas, com apoio do governo no suprimento de informações para o setor.

Em seguida foi a vez de o setor empresarial se manifestar, representado por André Nassar, diretor da Agroícone, Fernando Bertolucci, gerente-geral de Tecnologia da Fibria, Márcio Nappo, diretor de Sustentabilidade da JBS, e Tatiana Trevisan, gerente de Sustentabilidade do Walmart.

O debate que se seguiu foi em torno dos riscos e oportunidades dos impactos das mudanças climáticas e como o setor produtivo está lidando com a questão. Inicialmente, cada uma das empresas apresentou ações internas que já estão executando para mitigação dos impactos e adaptação às mudanças climáticas. Em seguida, a plateia levantou questões relacionadas a segurança alimentar e no aumento dos preços dos produtos decorrente dos impactos das mudanças climáticas, no papel do setor agrícola para promover as soluções para as questões climáticas no setor e na participação dos fornecedores em favor da redução das emissões de gases de efeito estufa causadas pelas atividades do agronegócio.

Por Flávia Resende e Benjamin Gonçalves, do Instituto Ethos

Foto: Flávia Resende