Palestrante da Conferência Ethos, o country manager da TMP Worldwide Brasil comenta sobre os vários perfis de líderes e o que se espera da nova geração.
Dando prosseguimento à série de entrevistas com palestrantes convidados para a Conferência Ethos 360°, falamos hoje com Sérgio Sabino, country manager da TMP Worldwide Brasil, a maior agência de publicidade e referência mundial em inovação e tecnologia para recrutamento e employer branding. Com mais de 16 anos de experiência, Sabino acumula uma trajetória executiva em companhias como Ford, Citibank, BlackRock e Michael Page. É formado em marketing pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e tem MBA em gestão empresarial pela BSP e especialização em CRM pela ESPM.
Instituto Ethos: Na Conferência Ethos 360°, você falará sobre o tema “O Futuro da Liderança”. Qual a principal diferença entre os jovens líderes de hoje e lideranças de gerações passadas?
Sérgio Sabino: Na realidade, liderança é um comportamento que carrega características atemporais, internas do ser humano, além de outras do ambiente, da cultura e do momento que o mundo em que vivemos atravessa. De qualquer forma, é um comportamento que pode ser aperfeiçoado. Com o passar das gerações e as mudanças culturais que o mundo vive e viveu, os tipos de liderança também se alteram. No passado, dominado pelo baby boomers (como ficou conhecida a geração de filhos da Segunda Guerra, hoje com seus 65 anos, em média), a liderança, que de maneira simplista é a arte de influenciar pessoas rumo a um objetivo comum, não existia como a tratamos hoje. É o que chamamos de liderança autocrática, em que o líder determinava as ações e o grupo acatava, sem direito a opinião.
Atualmente, a geração X, hoje com seus 45 a 50 anos, domina as posições de liderança ainda em sua maioria. Essa geração se notabilizou pelo valor à carreira longa numa mesma organização, estabilidade e paciência para construir seus objetivos. Percebe-se uma transição leve da liderança autocrática para a democrática, que começa a compartilhar determinados assuntos para que o grupo colabore e opine de maneira intuitiva. Ainda, porém, com muita centralização.
Hoje, vivemos um momento de nova transição. A geração Y, que começa a completar 35 anos no próximo ano, já começa a assumir postos relevantes nas organizações e traz consigo os traços de comportamento de sua geração, ou seja, um maior desprendimento em relação ao seu empregador e a busca constante e rápida por novos desafios. Isso traz um novo perfil de liderança, a liderança liberal, que denota uma maior descentralização das decisões e confiança nos seus subordinados.
A maneira com que as lideranças hoje buscam se comportar reflete um dilema muito forte nas empresas. Muitos líderes da geração X têm buscado rever seus conceitos de liderança para preservar o capital intelectual, mas isso exige uma mudança importante na atitude, no comportamento de alguém que já tem uma carreira consolidada e suas convicções. A própria geração Y, quando chega a postos de liderança hoje, sofre com essa nova ordem, especialmente por ter um chefe ainda da geração X.
Por isso, o momento é de ebulição neste campo.
IE: E quanto isso afeta a maneira de fazer negócios das empresas? É uma mudança positiva?
SS: A nova geração de líderes traz uma inquietude saudável, um inconformismo que pode ser muito útil, mas que precisa achar o ponto de equilíbrio. Se bem planejada, uma liderança jovem pode oferecer desafios aos seus subordinados, mantê-los motivados e, portanto, produtivos. Isso proporcionará melhores resultados à empresa no médio prazo, pois diminuirá o turnover e preservará o capital intelectual. Mas vale ressaltar que o cenário de 30 anos atrás, de longas carreiras na mesma empresa, jamais voltará.
IE: Quais as expectativas do mercado no que se refere a esse novo perfil de liderança?
SS: Em minha opinião, o mercado deve encarar esse novo perfil de liderança como qualquer transição de gerações. É isso que nos trouxe até aqui, do ponto de vista de evolução, e continuará a nos levar adiante. As novas tecnologias fizeram com que essa nova geração assustasse em maior escala as gerações anteriores, pois não havia precedente para isso. Mas, no final das contas, a arte de influenciar e comandar pessoas, de forma a conseguir atingir seus objetivos, sempre precisará considerar fundamentalmente o fator humano. E a geração Y já está entendendo isso.
IE: Esses novos líderes estariam mais abertos a discutir e implementar negócios sustentáveis?
SS: Creio que sim, pelo fato que comentei lá no início. Cada geração, em seu processo evolutivo, tende a contestar sistematicamente as gerações anteriores. Isso ajuda a evitar que alguns erros se repitam. É como qualquer processo de criação de filhos adolescentes, que se inicia quando eles passam a contestar absolutamente tudo que os pais fazem. Quando chegam à vida adulta, entendem que algumas coisas realmente não poderiam ser feitas de outra forma, mas algumas sim. Por isso, entendo que esta nova geração, ao perceber a falta de atenção das gerações anteriores a este assunto, por estarem (com certa razão) preocupadas em reerguer o mundo após as grandes guerras, vai tomar as rédeas para evitar as consequências que eventualmente a busca incessante pelo crescimento possa ter causado. E certamente, pelo perfil criativo que esses novos líderes têm, estimulados que foram desde crianças, trarão soluções inovadoras para os problemas atuais, especialmente os relativos à sustentabilidade. Isso já se vê em diversas empresas.
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Por Letícia Paiva, do Instituto Ethos