A terceira edição do evento mostrou como a diversidade e, sobretudo, o talento feminino podem fazer bem para os negócios e para a sociedade.

Por Jorge Abrahão*

Foi realizada em São Paulo, nos dias 26 e 27 de maio, a terceira edição do Women’s Forum Brazil, que contou com a participação do Instituto Ethos. O evento reuniu mais de 500 líderes de todas as regiões do Brasil, bem como da América do Sul, e abordou o tema “Criando uma Economia Próspera para Todos”.

Esse tema faz lembrar a ativista dos direitos humanos, escritora e poeta negra norte-americana Maya Angelou, pseudônimo de Marguerite Ann Johnson, que nasceu e cresceu no auge da segregação racial em seu país. A situação difícil que enfrentava, de parcos recursos financeiros na família e de discriminação e falta de oportunidades na sociedade foram, no entanto, impulso para que essa menina superasse as desvantagens e se tornasse não apenas uma das maiores escritoras do país como uma referência mundial na questão dos direitos civis e dos direitos humanos. Quando lhe perguntavam sobre preconceito e discriminação, Maya Angelou costumava responder: “É uma boa época para os pais ensinarem mais cedo os jovens de que na diversidade existe beleza e força”.

A terceira edição do Women’s Forum Brazil mostrou, justamente, como a diversidade e, principalmente, o talento feminino podem fazer bem aos negócios e à sociedade.

O que foi

Esta terceira edição do encontro apresentou oficinas práticas sobre talento, liderança e estratégias de finanças e negócios adaptadas especificamente para os interesses dos participantes de grandes corporações, líderes de pequenas e médias empresas e mulheres empreendedoras.

Houve também sessões específicas para discutir como é possível criar condições para que mulheres se desenvolvam e como tais ações são essenciais para a sustentabilidade dos negócios e da economia.

A educação foi destacada como um dos principais agentes transformadores num cenário em que as lideranças femininas ainda não são plenamente reconhecidas.

Para entender um pouco mais como será essa jovem liderança feminina que está vindo, a PwC desenvolveu uma pesquisa em 18 países com 40 mil mulheres nascidas em 1982 e 2004. E percebeu que essas jovens serão mais escolarizadas, 55% delas têm ou terão diploma universitário e 56% estão confiantes de que podem atingir os níveis mais altos da hierarquia das empresas. E mais: 97% delas querem uma vida mais equilibrada.

Esse pequeno retrato da jovem profissional em formação dá a medida do desafio que as empresas precisam enfrentar. Hoje, as mulheres já possuem mais educação do que os homens, segundo dados do IBGE. Todavia, ainda recebem 25% menos do que eles e ainda não são representadas adequadamente nos cargos de chefia de acordo com sua participação na sociedade. Na última pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil, feita em 2010 pelo Instituto Ethos e pelo Ibope, as mulheres representavam 13,7% do quadro executivo das empresas. Houve um avanço em relação a 2001, ano da primeira pesquisa, quando elas ocupavam apenas 6 % desses cargos. Mas, se as empresas não adotarem medidas para agilizar o processo, levaremos 40 anos para igualar a participação de homens e mulheres nesse nível.

O que fazer para resolver?

No Brasil, a mulher começou a ter seus direitos reconhecidos somente a partir dos anos 1930. O direito de voto foi conquistado em 1932. Direitos trabalhistas foram consolidados na CLT, mas ampliados durante a luta pela redemocratização do país, nos anos 1960, 1970 e 1980. Ainda hoje há muitos avanços a serem conquistados. Na política, a atual representação feminina no Congresso é de 8,6%, menor do que em países como o Iraque e o Senegal. Uma situação desproporcional à participação da mulher como força de trabalho na sociedade brasileira.

O que fazer para resolver essas disparidades? Um dos caminhos que as sociedades adotam é o das ações voluntárias, como o compromisso de empresas com a valorização da mulher e dos direitos LGBT, promoção da igualdade racial e assim por diante. No Brasil, com os resultados verificados pelo perfil, levaremos, como já destacamos, mais 40 anos para igualarmos as condições de gênero nas empresas. E, na representação política, pelo menos 400 anos.

Por isso, a sociedade precisa discutir quais devem ser os limites das ações voluntárias e as alternativas a elas – como a construção de políticas públicas. Normalmente, as políticas públicas sobre o tema têm sido estabelecer cotas e condicionantes para acesso a crédito. Mas outra variável começa a ser aplicada em alguns países, e mesmo no Brasil: o tempo para cuidar dos filhos.

Hoje, se alguém tem de ser prejudicado na carreira, por conta de precisar de tempo para cuidar dos filhos, esse alguém é a mulher. Todavia, já há empresas incorporando maior flexibilidade na gestão do tempo, em nome na manutenção de talentos. Com isso, o pai também ganha o “direito” de revezar com a mãe a tarefa de sair mais cedo para buscar o filho na escola ou levar ao médico.

Em relação à licença-maternidade, na Noruega, por exemplo – cujas empresas têm alta produtividade –, ela dura 11 meses, com salário de 100%, ou 16 meses, com 80% do salário. O pai tem direito a dez semanas de licença para ajudar a cuidar do bebê. Se a mãe decidir não voltar ao trabalho, há um subsídio do governo para ela até o bebê completar 2 anos de idade. Quando decidir, volta para a mesma posição, sem problemas.

Isso ocorre porque a Noruega tem como prioridade a criança. Tanto assim que, no dia nacional do país, equivalente ao nosso 7 de Setembro, quem desfila pelas ruas são as crianças, e não tropas militares.

Na Inglaterra, a licença-maternidade é de um ano, com 100% do salário pago. Na Alemanha, a licença-maternidade começa 42 dias antes do parto, prolonga-se por 56 dias depois do parto, com 100% do salário pago, e ainda pode estender-se por mais um ano, com 65% da remuneração, sendo que este último período pode ser dividido com o pai. Já os EUA são o único país industrializado a não garantir por lei licença-maternidade remunerada. As mulheres precisam fazer seguro ou negociar o pagamento direto com o empregador.

Essas ideias mostram que a sociedade brasileira precisa aprofundar algumas “discussões de fronteira”, como, por exemplo, o reconhecimento do tempo despendido com o cuidado aos filhos, que se reverte em melhores cidadãos para a sociedade.

* Jorge Abrahão é diretor-presidente do Instituto Ethos.