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CONFERÊNCIA ETHOS

A Conferência Ethos alcança todas as pessoas

Temas conversam com assuntos de interesse comum

21/08/2020

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Além de se tornar mais acessível, por causa da transmissão online e gratuita, através do canal do Ethos no YouTube, a Conferência Ethos 2020 tem apresentado, semanalmente, temas interessantes e atrativos.

Então, o que você precisa saber sobre o oitavo dia da Conferência Ethos? Independente da área de atuação ou das causas que acredita, os temas abordados nesta quinta-feira (20), falam com todas as pessoas devido a amplitude das abordagens.

Leia abaixo um breve relato de tudo que aconteceu no oitavo dia do evento: 

15h – Trabalho precário e trabalho subestimado – a crise pode ressignificar algo?

Arne L. Kalleberg, professor de Sociologia na Universidade da Carolina do Norte e editor do Social Forces e Ludmila Costhek Abílio, socióloga, mestre em Sociologia (USP), doutora em Ciências Sociais (Unicamp) e pós-doutora em Economia (USP), conversaram com Marina Ferro, gerente-executiva do Instituto Ethos. E, Guy Standing, professor associado de pesquisa da SOAS University of London, mandou um vídeo com suas contribuições.

“A precarização do trabalho também leva a precarização das nossas vidas, tudo isso em um cenário agravante, com a questão da pandemia”, avaliou Marina ao abrir o diálogo.

Arne explicou que “o trabalho precarizado já acontecia nos anos de 1800 e até antes”. Mas, observou que “tudo piorou nos últimos 30 anos com o mundo globalizado, com a desregulamentação dos mercados e a queda de proteção e dos sindicatos, por exemplo”. E, analisou que “o efeito do trabalho precarizado é enorme sobre a comunidade e não afeta somente o trabalho em si, mas além dele. Os problemas na sociedade se devem a essa insegurança econômica que veio com o aumento da direita e de movimentos populistas”, afirmou.

No vídeo, Guy disse que entende “o trabalho instável” e o “trabalho inseguro”, mas que “o trabalho precário tem não somente o instável e inseguro, mas também uma parte enorme do trabalho que não é remunerado para produzir as condições, isso é parte do sistema rentista”. Para o professor da universidade de Londres, “as relações de distribuição são distintas no precariado, diferente do proletariado, que tem benefícios do governo e sistemas de apoio, já o precariado tem que contar somente com o salário nominal que cai e flutua sem nenhum direito a benefícios”.

Ludmila avaliou que “falar de trabalho precário ou de precarização do trabalho em um país como o Brasil é falar de uma população que vive uma desigualdade social que é estruturante e abissal. Mais de 50% dos trabalhadores brasileiros vivem com um salário ou com um salário mínimo e meio por mês. Pensar em trabalho precário é pensar na sociedade brasileira”, disse ela.

E, finalizou: “Parece um túnel sem luz no fim, estamos submetidos a uma forma de governo que generaliza elementos estruturais de um trabalho precário. É uma espécie de autogoverno, é um salve-se quem puder para garantir a própria sobrevivência”, observou a socióloga.

16h10 – Sequestro de dados e extorsão digital ou criptoviral – o mercado de informações sigilosas e estratégicas

Anchises Moraes, evangelista no C6 Bank e diretor do capítulo Brasil da Cloud Security Alliance (CSA), iniciou as falas dessa segunda atividade do dia trazendo apontamentos sobre os riscos que as empresas estão expostas, quanto ao sequestro de dados, neste momento de pandemia: “Com a pandemia e com todos online, o criminoso vai para o online cometer seus crimes. O que agrava a questão é que nos computadores em casa não há um maior controle de segurança. Wi-Fi compartilhado com o vizinho, computador com antivírus na versão gratuita e etc., tornam o ambiente vulnerável aos ciberataques”, explicou.

Thiago Sombra, sócio do escritório de advocacia Mattos Filho, professor de Direito na Universidade de Brasília (UnB) e membro da International Association of Privacy Professionals (IAPP), se dedicou a falar sobre como as empresas estão enfrentando essa situação. “Várias empresas não têm uma política de recompensas para denúncias nesses casos, como vemos em denúncias de corrupção. Há empresas de tecnologia que já têm implantado isso, mas no Brasil ainda não. Seguimos com os tais pesquisadores do bem, quem nem sempre estão a serviço do bem, mas sim são criminosos disfarçados de pesquisadores do bem”, revelou.

Eder de Abreu, sócio da linha de serviço de Cyber Risks Services e responsável pelo Cyber Intelligence Center em São Paulo, observou com os cibercriminosos têm se utilizado da pandemia para realizar os ataques. “O que temos visto bastante, toda essa quantidade de malwares com a pandemia, são os que se usam do tema Covid-19 para chamar a atenção das pessoas e viabilizar os ataques. A pandemia não criou novos ataques, mas eles foram refinados nesse período”, contou.

17h20 – Como a pandemia afetou os negócios agroextrativistas e a agricultura familiar?

Carina Pimenta, uma das fundadoras e diretora executiva da Conexsus – Instituto Conexões Sustentáveis; Rodrigo Freire, vice gerente de Restauração Florestal na The Nature Conservancy; e, Vanderley Ziger, assessor da Cooperativa de Crédito de Interação Solidária (Cresol) e diretor-presidente da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (UNICAFES), dialogaram com Flavia Resende, coordenadora de Projetos de Meio Ambiente do Instituto Ethos, sobre como “a crise destacou a necessidade sobre o fortalecimento da agricultura familiar e do agroextrativismo”.

Carina apresentou a visão da organização em que atua: “A Conexsus vê três grandes desafios nesse contexto: essas organizações não se enxergam como um negócio, apesar do potencial econômico que têm, carecendo de um processo de discussão e potencialidade; a diversificação dos canais de comercialização; e a não acessibilidade aos instrumentos financeiros adequados para o desenvolvimento desses empreendimentos”, contou.

A diretora executiva ponderou ainda que “precisamos ajudar a destravar o capital que está travado no ambiente de crédito rural. Devemos olhar para a agregação de valor e toda a estrutura necessária para que o produto flua e circule para quem quer consumir”, disse.

Vanderley falou sobre os impactos advindos para o setor com a pandemia: “Outro impacto é a necessidade de começar a pensar as estratégias de comercialização futuras. Talvez haja um desabastecimento dos produtos que vinham da agricultura familiar. Mas, por outro lado, vimos surgir alguns espaços alternativos de comercialização, percebemos que os agricultores, com suas cooperativas, começaram a comercializar produtos diretamente com o consumidor, o que não tínhamos com frequência”.

Para ele, a aposta para o momento é na articulação em red:. “Outro fator importante nesse período foi a articulação em rede, ou seja, algumas cooperativas não estão articulando seus produtos sozinhas, mas trabalhando com uma rede de cooperativas, otimizando a comercialização através dessas redes, sobretudo em circuitos curtos, por proximidade”, pontuou.

Por fim, Rodrigo contou sobre a realidade vivenciada no estado do Pará. “A realidade nesse território é que temos um perfil etário de idosos, boa parte dos agricultores já estão no grupo de risco do coronavírus, acima dos 60 anos. Então, existe um desafio do perfil do agricultor no campo, porque a população tem uma faixa etária mais avançada e a conectividade de internet e telefonia é muito restrita, o que na Amazônia é em um outro nível de desafio. Esse grupo é bastante impactado por isso”, explicou.

18h30 – As desigualdades regionais e o lugar da Amazônia no processo de recuperação verde pós-pandemia

Caio Magri, diretor-presidente do Instituto Ethos, abriu a última live do dia pontuando que “temos desigualdades históricas quanto a região amazônica” e que “os impactos da pandemia agravaram uma situação que é marcada inclusive pela falta de transparência”.

Adriana Ramos, assessora do Instituto Socioambiental (ISA), analisou que “temos o entendimento que as políticas para Amazônia deveriam estar voltadas para conservação”, porém “o que temos visto nos últimos anos é um desmonte dessa estrutura”. Ainda sobre desmontes, a assessora considera que “desvalorizar e minar os processos de aprendizado, além de legitimar a ilegalidade não é sequer uma volta no tempo, um retrocesso”, pois, segundo Adriana, ela não se recorda de “termos tido um tempo tão ruim assim antes”.

Caetano Scannavino, coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria, também abordou a ausência de políticas públicas de proteção. “Não vejo agentes públicos de maneira eficiente assistindo as aldeias. E, se isso acontece, muitos recorrem aos garimpeiros e, assim, a aldeia vizinha irá romper com esse cidadão que buscou apoio, rachando o movimento. (…) algo que não é apenas desse governo, mas que agora está sendo legalizado, com a proposta de liberação do garimpo como a resolução de todos esses problemas”, observou.

Julio Barbosa Aquino, ambientalista e presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), resgatou a história da CNS para clamar por atuação mais organizada a fim de enfrentar os atuais desafios. “Em outubro, o CNS completa 35 anos de existência, criado a partir de um encontro viabilizado por Chico Mendes, fomos à Brasília mostrar que na Amazônia há índios e ribeirinhos que precisam ser respeitados. Fomos ao Congresso Nacional e apresentamos nossas propostas, reivindicações e uma carta. De lá saímos com a constituição do CNS”, contou.

O ambientalista continuou: “o instrumento principal, que resultou nas conquistas que alcançamos, foram as lutas na Amazônia. Como as lutas dos povos indígenas, aqui do Acre, na busca pela demarcação de terras, que levou ao entendimento de que a forma de luta dos índios deveria ser incorporada por nós e resultou na Aliança dos Povos da Floresta”, lembrou.

Por fim, estabeleceu o aprendizado que pode (ou deve) servir de exemplo: “Uma questão fundamental que fez parte de todo esse processo, que o Chico Mendes sempre pregava, era a disciplina e união. Organização e união”, acredita.

Por: Rejane Romano, do Instituto Ethos

Foto: Pexels

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