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CONFERÊNCIA ETHOS

Mais cinco atividades se somam ao acervo de conteúdo da Conferência Ethos 2020

7º dia lançou luz sobre novos e antigos dilemas de nossa sociedade

14/08/2020

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Desde que a pandemia se tornou uma realidade, temos observado que desafios preexistentes foram potencializados e que novas questões passaram a integrar o que muitos chamam de “novo normal”. Seja na área social ou ambiental, será necessário rever processos, a lógica dos negócios e inclusive a conduta de empresas, governos e cidadãos.

Para falar sobre essas questões, o sétimo dia da Conferência Ethos 2020 contou com especialistas que, em cinco painéis, dialogaram sobre pontos de atenção. Todo conteúdo se encontra disponível e gratuito no canal do Ethos no YouTube .

Abaixo você pode se inteirar sobre as análises e escolher qual painel vai assistir na íntegra: 

15h – América Latina e Mercosul: as empresas e as alternativas e planos para sobreviver à pandemia e promover o desenvolvimento sustentável regional 

Andrea Alvares, VP de Marca, Inovação, Internacional e Sustentabilidade foi a primeira a expor suas análises sobre a questão, resgatando como a Natura atuou no enfrentamento da crise de coronavírus. “Agimos em três focos: cuidar das pessoas, barrar o contágio e manter a economia circulando”, lembrou.

Quanto aos aprendizados, Andrea destacou não saber “qual será o novo normal”, mas que “iguais não sairemos dessa pandemia”. “Temos que ser corajosos para não voltarmos ao status quo”, pontuou e complementou: “temos que repensar os processos industriais e a lógica dos negócios levando em consideração as pessoas e a natureza”. E, concluiu dizendo que “para sair dessa crise temos que pensar em movimentos que levem em conta benefícios e sistemas de reconhecimento que incluam o ambiental e o social. É assim que a gente desenvolve a Agenda 2030 e é assim que a Natura atua há anos”.

Ignacio Sabino, gerente de Comunicações Corporativas e Relações Públicas da Argentina e Chile da Henkel, contou sobre as experiências da empresa. “Uma aliança que também tem forte impacto na América Latina é para os insumos e matéria prima, por isso atuamos na capacitação em outras regiões”; e reforçou que “temos que ver, a partir desse momento, como se comportará o mercado, no pós-pandemia”, finalizou. 

16h10 – Refinamento de informações e privacidade: o que a pandemia nos ensinou?

Já no início da conversa, Paula Oda, coordenadora de Projetos de Integridade do Instituto Ethos, anunciou como seria o bate-papo. “Essa será uma discussão sobre o refinamento das informações durante a pandemia. O uso das tecnologias se intensificou nesse período e os governos passaram a utilizá-las como monitoramento. Dispositivos como smartphones passaram a ser utilizados como ferramentas de vigilância coletiva. Isso traz uma preocupação sobre como esses dados serão utilizados e como isso pode impactar nosso cotidiano. Como fica a privacidade?”, antecipou ela.

Rafael Zanatta, diretor da Associação Data Privacy Brasil de Pesquisa, observou pontos da utilização de dados. “É preciso a utilização inovadora e inteligente desses dados para o enfrentamento da pandemia. A pergunta não é ‘sim’ ou ‘não’, essa utilização é necessária. O problema é o ‘como’, como utilizar esses dados”, destacou.

Zanatta também chamou atenção para implicações que já estão acontecendo: “Alguns projetos estão sendo contestados judicialmente, como a parceria com as empresas de telecomunicações e o governo de SP para construir mapas de calor para inferir se as pessoas estão em casa ou não e se estão se aglomerando em outros lugares. O Judiciário apontou que documentos técnicos desse projeto não foram apresentados de antemão, mas só quando veio a questão judicial”, contou.

Nesse aspecto, Claudia Bauzer Medeiros, professora titular do Instituto de Computação da Unicamp, falou sobre os prós e contras da utilização dos dados: “Temos muitos avanços só pelo fato de alguns dados terem se tornado públicos (…). Até que o ponto o cidadão, consciente dos perigos que pode haver da descoberta de quem ele é via telecomunicações e tecnologias, está disposto a disponibilizar o seu ‘trace’ (rastro) para acelerar a cura e para melhorar políticas públicas e para o bem da coletividade?”, provocou a professora.

17h20 – Mais Brasil, menos Brasília: federalismo brasileiro e a autonomia municipal

Vários pontos sobre o “federalismo que queremos ter” foram apontados por Eduardo Giannetti, PhD em Economia pela Universidade de Cambridge; Gilberto Perre, secretário-executivo da Frente Nacional de Prefeitos (FNP); Giovanna Victer, secretária de Fazenda de Niterói (RJ); e, Ricardo Young, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos.

Coube aos painelistas responderem à provocação: “vemos a importância dos municípios atuarem com autonomia, quanto a pandemia, mas também com os desafios da mudança climática. Como fazer isso com a estrutura orçamentária que os municípios têm?”, lançada por Young.

Para Giannetti, “precisamos sair do federalismo e descentralizar”. “O dinheiro público deve ser gasto o mais perto possível de onde ele é arrecadado. O cidadão brasileiro não sabe o quanto e para onde vai o que ele paga em impostos. E não sabe como volta, e se é que volta, aquilo que ele pagou em impostos. Estamos em grau zero na cidadania tributária”. E, foi categórico ao dizer que: “há duas coisas que gostaria de ver como cidadão brasileiro. A primeira é que o dinheiro deixe de ir à Brasília para voltar aos estados e munícios, nesse passeio absurdo para chegar até a ponta, onde será gasto. Outra questão, é quanto aos municípios, podemos verificar que 85% dos recursos de municípios de até 50 mil habitantes é uma ‘mesada’, pois praticamente não arrecadam proporcionalmente ao seu gasto”.

Gilberto Perre, secretário-executivo da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), falou sobre os erros no contexto de federalismo. “A Constituição de 88 traz muito do sistema tributário da década de 60, explicando como se arrecada e como se distribui. Isso acarreta em erros, pois o pressuposto da década de 60 era, por exemplo, caracterizado por questões da época, que considerava a economia das pequenas cidades apenas voltadas para agricultura, com menos densidade de tributos. O mundo mudou, temos cidades mesmo que pequenas, muito populosas. E à luz do que se entendia na década de 60, acredita-se que cidades muito populosas são ricas, mas nós temos cidades muitos populosas e pobres e isso o nosso federalismo não enxerga”, observou.

Giovanna Victer, secretária de Fazenda de Niterói (RJ), analisou as assimetrias temporais e de competências que diferem a União da prática dos estados e municípios. “Quanto a assimetria de tempo. Eu vejo que os tempos da União são muito diferentes, longos prazos de maturação, de análise. E também o tempo financeiro. Nos municípios não existe cheque especial, acabou o dinheiro do município, não se pagam os salários. Com relação as competências, as da União são de médio e longo prazo: questões cambiais, sustentabilidade de dívidas. Já a competência dos municípios é garantir alimentos nas creches todos os dias, iluminação, ruas asfaltadas… E o pior, temos que abarcar e assumir atividades como, por exemplo, segurança pública”.

18h30 – O comércio de informações: como as Big Techs conquistam países, desafiam nossos direitos e transformam nosso mundo

Alexis Wichowski, vice-diretora de Tecnologia para Inovação da Cidade de Nova York, professora na Columbia University’s School for International and Public Affairs e autora do livro “The Information Trade: How Big Tech Conquers Countries, Challenges Our Rights, and Transforms Our World”, falou com Paula Oda, coordenadora de Projetos de Integridade do Instituto Ethos, sobre o livro e a atual conjuntura mundial.

Alexis contou sobre o que são as Big Techs. “Plataformas que funcionam em nível global e que trazem conveniências para a segurança, para a diplomacia e vários outros assuntos”. E, completou explicando: “A tecnologia não é uma coisa ruim e as Big Techs fornecem muitas vantagens. Não estaríamos tendo essa conversa agora se não fosse a tecnologia. Deixei claro no meu livro que a tecnologia não é ruim, mas elas (as Big Techs) cresceram em poder, chegando ao ponto em que não há regulamentação governamental para isso, porque se expandiram muito além do serviço inicial que pretendiam prestar”.

A autora pontuou ainda que “a única forma de garantir que elas (as Big Techs) se tornem responsáveis para o melhor interesse do usuário é se tivermos realmente consciência do que elas fazem”.

19h30 – A questão de gênero e a mudança climática no semiárido brasileiro 

Quatro mulheres apresentaram pontos de vistas e importantes análises sobre a questão de gênero no semiárido quanto aos inegáveis efeitos da mudança do clima.

Aderita Martins de Sena, doutora em Ciências em Saúde pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz (MS), falou sobre as “grandes ameaças ao nosso planeta, como a mudança do clima e o processo de desertificação”. Desafios que, segundo ela, são ainda maiores para as pessoas que vivem em terras áridas ou semiáridas. “Nessas terras é que a produção de alimentos sustenta a população mundial. Daí podemos perceber o desafio que temos a frente”.

“O contexto rural também diferencia homens e mulheres, na agricultura, no acesso à água. Há estudos que apontam que no semiárido as mulheres são responsáveis pela coleta de água em açudes, tendo que transportar a água por longas distâncias, causando doenças. Isso sem falar no caso das mulheres grávidas que podem chegar ao aborto. E ,ainda, a falta de água para hidratação e limpeza, para o asseio de si próprias”, contou a doutora.

Andrea Sousa Lima, educadora popular, feminista e coordenadora de Projetos na ONG ESPLAR, observou a respeito da agricultura familiar. “Pensar num contexto de convivência com o semiárido é pensar como as populações camponesas há anos têm estratégias de como lidar com o solo e com a água, a agroecologia. Se alimentar de um alimento orgânico é se alimentar também de cultura (…). As mulheres como preservadoras da biodiversidade precisam ser encaradas como atuantes no processo de ruptura da desertificação e das consequências da mudança climática”, enfatizou.

Valda Aroucha, pedagoga, ecofeminista e mestre em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental, ponderou que “não há como falar em mudança climática e resiliência climática sem pensar numa política de etno conservação. Temos na Bahia a maior comunidade quilombola do Brasil”.

A ecofeminista destacou que “é preciso a implementação de políticas públicas urgentes, que fomentem as pesquisas nas universidades e o apoio ao campo. Segurança alimentar e hídrica é indispensável. A falta de políticas para isso significa uma violência absurda”.

“Quando falamos que uma mulher cozinhando o dia todo em um fogão de lenha é como se ela tivesse fumado o dia todo, estamos dizendo que precisamos da tecnologia para apoiar as mudanças, estamos falando do eco fogão”, contou Valda.

Edneida Rabêlo Cavalcanti, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, falou sobre uma iniciativa que muito contribuiu para um dos principais enfrentamentos das mulheres, como exemplificado pela Aderita, o acesso à água potável. “A construção de cisternas é um marco fundamental, principalmente para as mulheres. Um programa que está em risco com o atual governo, por isso a importância das políticas públicas”.

Por: Rejane Romano, do Instituto Ethos

Foto: Pexels

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